sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A saliva como espécime biológica no diagnostico da Tuberculose Pulmonar

A saliva como espécime biológica no diagnostico da Tuberculose Pulmonar

Taciana Sotero de Aquino Pereira¹; Félix Gerardo Vasconcelos Motta².

1-Acadêmico Graduando no 8º período do Curso de Biomedicina da Faculdade Maurício de Nassau – FMN 2008.2
2-Biomédico Doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco / Orientador do Trabalho / Biomédico e Pesquisador responsável pelo setor de tuberculose do Centro de edemias e análises médicas do Paulista – CEAMP.

Área de pesquisa do artigo: Ciências da Saúde - Bactériologia

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Resumo: A Tuberculose Pulmonar é uma doença da árvore brônquica, causada pelo Mycobacterium tuberculosis que é uma bactéria na forma de pequenos bastonetes. O material biológico de eleição para o diagnóstico é o escarro, pois contém partículas expelidas pelos pulmões. O escarro pode se apresentar com o aspecto sanguinolento, mucopurulento, mucoso, saliva e liquefeito. Para evitar se rejeitar amostras e assim controlar a morbidade e motalidade da doença no município, o CEAMP que é o laboratório e central do município de Paulista no estado de Pernambuco, realiza também a pesquisa dos bacilos no escarro com aspecto saliva, diminuindo o numero de amostras rejeitadas, este procedimento otimizou os diagnósticos de casos novos em pediatria e controle de tratamento da Tuberculose Pulmonar.


Palavras chaves: tuberculose pulmonar; diagnóstico; TB; CEAMP Paulista, Saliva, espécime.




Abstract: Saliva as a Biological Specimen for the Diagnosis of Pulmonary Tuberculosis.

Pulmonary Tuberculosis is an illness from the Bronchitis family caused by the Mycobacterium Tuberculosis, a bacteria in the form of small rods (rhabdoidal bacilus). The biological material for it's diagnosis is the spittle as it contains particles excreted by the lungs. Spittle can appear with a sanguinary, muco-purolent, saliva, liquefied and mucus aspect. In order not to reject the samples and to control the morbidity of the illness the CEAMP, the central laboratory or the municipality of Paulista in Pernambuco, does the research into the bacilus in the saliva, destroying the 'myth' that this can't be used as the clinical material of choice for the diagnosis of pulmonary tuberculosis.

Key-words: pulmonary tuberculosis; diagnosis; CEAMP Paulista; Saliva; Specimen.


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INTRODUÇÃO
A tuberculose pulmonar é uma doença da árvore brônquica, causada pelo Mycobacterium tuberculosis que é uma bactéria em forma de bastonetes retos e finos, que mede cerca de 0,4x3µm. As micobactérias não podem ser classificas em gram-positivas ou gram-negativas, e uma vez coradas com corantes básicos, não podem ser descoradas pelo álcool, pois os verdadeiros bacilos da tuberculose caracterizam-se pela sua álcool-ácido-resistência (Técnica de Ziehl-Neelsen).
A fonte mais freqüente de infecção é o humano infectado em estado bacilífero, que elimina grande número de bacilos da tuberculose pelas vias respiratórias, por isso contatos próximos como família e profissionais da saúde tornam altamente provável a transmissão.
A suscetibilidade à tuberculose é uma função do risco de contrair a infecção e do risco de desenvolver a doença clínica após a ocorrência de infecção. Para os pacientes sadios, o risco de adquirir bacilos da tuberculose depende da exposição a fontes de bacilos infecciosos, principalmente em contato com pacientes com escarro positivo. Este risco é proporcional ao tempo de exposição e a concentração de bacilos a que é exposto.
O desenvolvimento da doença clínica após infecção pode ser influenciado pela idade (alto risco no lactente e no idoso), desnutrição, estado imunológico do indivíduo, por doenças concomitantes (Ex: Diabetes, HIV) e outros fatores de resistência do hospedeiro.
O material clínico de eleição para o diagnóstico da tuberculose pulmonar é o escarro, que contém partículas sólidas ou purulentas produzidas no pulmões que são expelidas junto com a tosse. O escarro pode se apresentar como: saliva, mucopurulento, sanguinolento, liquefeito e mucoso.
No município do Paulista no estado de Pernambuco, especificamente no CEAMP (Centro de edemias e análises médicas do Paulista), a pesquisa de bacilos não apenas é feita no escarro com aspecto mucoso, como também com aspecto de saliva. O motivo principal para a pesquisa dos bacilos na saliva é a não rejeição das amostras, pois se percebeu que ao recusar amostras com aspecto de saliva, muitos pacientes não retornavam ao laboratório com o novo material, alguns desses já se encontravam em estado bacilífero, colocando em risco outras pessoas. Outros fatores também foram fundamentais para ter a saliva como amostra no diagnóstico da tuberculose pulmonar no município do Paulista, entre eles:
- Dificuldade que alguns pacientes têm para escarrar, entre eles estavam as crianças, os idosos e os pacientes com HIV; controle de tratamento de TP
- Alguns pacientes chegam aos postos de coleta ansiosos, amedrontados por ser uma doença que ainda tem um estigma e é motivo para preconceito;
- Orientações inadequadas dos funcionários dos postos de saúde e hospitais para a coleta do escarro;
- Dificuldade financeira que alguns pacientes têm para retornar ao laboratório com o novo material;
- O controle da morbidade, logo, quanto mais rápido se faz o exame, mas cedo o paciente entra em tratamento e assim sai do risco de contaminar outras pessoas e de desenvolver a forma crônica da tuberculose.
O artigo tem como objetivo, mostrar a importância e a eficiência da saliva para o diagnóstico da tuberculose pulmonar e assim detectar os casos de tuberculose pulmonar e monitorar a evolução do tratamento com maior rapidez e eficácia, sem causar traumas ao paciente.


DESENVOLVIMENTO
I – METODOLOGIA
A elaboração deste trabalho foi realizada no Município do Paulista no estado de Pernambuco, que tem uma população aproximada de 307.284 habitantes (IBGE, 2007), e é dividido em quatro regiões sanitárias: Distrito industrial, Zona rural, áreas de praia e Central (comércio). Em cada uma dessas regiões existem postos de coleta, e o diagnóstico é realizado no CEAMP que fica no bairro do Arthur Lundgren I e recebe amostras das quatro regiões sanitárias citadas acima.
“O município comporta 45 unidades básicas de saúde todas com programa de controle da tuberculose implantado e tem 40 equipes de saúde da família cobrindo 46% da população, priorizando a população de baixa renda” (Ministério da saúde, 2008).
Segundo o Fundo Global, a taxa de incidência da tuberculose pulmonar em 2007 é de 20/100.00 habitantes.
A técnica utilizada para o diagnóstico da tuberculose pulmonar na saliva é a de Ziehl-Neelsen acrescentando o tratamento da saliva, realizada da seguinte maneira:
1ª colocar a saliva em um tubo cônico de centrifuga;
2ª Centrifugar a 3.500 rpm durante 5 min;
3ª utilizar sedimento para confecção da lâmina;
A pesquisa deste trabalho foi realizada no período de setembro de 2007 à agosto de 2008, utilizando o banco de dados do CEAMP, o SILT-B (Sistema eletrônico de informação da tuberculose). Os pacientes estudados eram todos sintomáticos respiratórios, ou seja, pacientes que realizaram pelo menos um exame de diagnóstico com resultado positivo ou negativo.
Para essa pesquisa foram excluídas as amostras com aspecto físico como: as sanguinolentas, as liquefeitas, as mucopurulentas e as amostras que eram mistura de muco com saliva. Utilizando apenas as amostras com aspecto de muco e saliva (definidas na figura 1, página 5).



(A) saliva (B) mucopurulento (C) sanguinolento (D) liquefeito
Figura 1: Aspectos físicos do escarro.
Fonte: Manual Nacional de Vigilância Laboratorial da tuberculose e outras micobactérias.


“Recomenda-se não deixar o escarro por muito tempo à temperatura ambiente, podendo torná-lo liquefeito, com aspecto muco-coloidal ou aguado. Normalmente, a parte sanguinolenta contém menos bacilos porque o sangue contata pouco tempo a lesão.” (Ministério da Saúde, 2008).
“A saliva e o muco nasal não são boas amostras para serem examinadas, mas não podem ser desprezadas, pois existe a possibilidade de que se encontrem bacilos.” (Ministério da Saúde, 2008).

II – ANÁLISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS.
Utilizando o levantamento dos dados do SILT-B, um quadro com a quantidade e porcentagem de baciloscopias feitas no muco e na saliva, analisadas no período de setembro de 2007 à agosto de 2008, se constatou que dos 1.131 exames realizados, 1.057 obtiveram resultado negativos e 74 positivos. Todas as baciloscopias realizadas pelo CEAMP são enviadas para o LACEN (Laboratório Central) onde são novamente examinadas para garantir a qualidade do resultado e para que não ocorram resultados falso-positivos ou falso-negativos.
Nesse período apenas 40 amostras foram consideradas inadequadas, não serviram como material para o diagnóstico, ou seja, 4%. Geralmente os motivos para a não utilização desse material são: pela falta de identificação do paciente no material, amostra com volume insuficiente, porque a amostra ficou muito tempo à temperatura ambiente se tornando inadequada para a realização da baciloscopia, como também no transporte desse material para o CEAMP, além da má qualidade do próprio material (como exemplo a amostra muito saguinolenta) impossibilitando o êxito do exame.
A quantidade e porcentagem de baciloscopias feitas no muco e na saliva analisadas no período acima citado, esta demonstrado no quadro 1.



Quadro 1: Quantidade e porcentagem de baciloscopias feitas no muco e na saliva.
Fonte: Banco de dados do CEAMP (SILT-B).




Analisando os valores do quadro 1, se observa que dos 1.131 exames feitos, 392 foram realizados no escarro com aspecto de saliva, ou seja , 35% do total que chega ao laboratório. Onde das 392 amostras de saliva, 12 foram positivas e 380 negativas.
A quantidade de amostras recebidas com aspecto mucoso foi de 739, tendo um percentual de 65% do total. Foi obtido no muco, 62 baciloscopias positivas e 677 negativas.
A comparação desses resultados pode ser visualizada no gráfico 1, que mostra relação quantitativa e de porcentual das amostras com aspecto mucoso e de saliva que chegaram ao laboratório.


Gráfico 1: Comparativo quantitativo e de percentual das amostras de saliva e de muco que chegaram ao laboratório.




Foi realizado o cálculo para avaliar a qualidade das amostras de escarro espontâneo recebidas para o diagnóstico. O método de cálculo é simples, calcula-se o número de amostras de escarro recebidas com aspecto de saliva em determinado período dividido pelo total de amostras recebidas no laboratório no mesmo período, multiplicando o resultado por cem. “O resultado deve ser interpretado utilizando o parâmetro que é 15%.” (Ministério da Saúde, 2008). Um percentual maior que 15% indica, não apenas que as orientações não estão sendo adequadas, mas também que os pacientes que chegam ao laboratório tem dificuldade de expectoração (pacientes HIV) Paciente em controle de tratamento ou que o estágio da doença é inicial.
No caso do município do Paulista o percentual foi de 35%. Pode-se dizer que esse valor não é um indicativo de que a saliva não pode ser utilizada como material para o diagnóstico da tuberculose pulmonar, no entanto o motivo do alto índice dos valores dos exames é: a não rejeição das amostras, sabendo que alguns pacientes têm dificuldade de expectoração os Paciente diagnosticados em tratamento (controle) (indiferente de ser criança, idoso, portador de HIV ou até mesmo por estar em estagio inicial da tuberculose pulmonar), pela indicação clinica em que o mesmo se encontra e para a maior rapidez do diagnóstico, controlando assim a morbidade. Também se baseando que o diagnóstico da Tuberculose pela baciloscopia do escarro com aspecto de saliva é tão especifico e preciso quanto do escarro com aspecto mucoso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito desse estudo foi de ampliar as possibilidades de diagnósticos da Tuberculose pulmonar, não descartando por inadequação as amostras de escarro com aspecto de saliva. Podemos constatar um aumento do índice de diagnostico em pacientes sintomáticos respiratório com diagnostico microbiológico de Tuberculose Pulmonar. Mostrando que exame realizado em material biológico escarro com aspecto de saliva ou mucoso tem especificidade, precisão e exatidão clinicamente e epidemiologia esperados. Facilitando a coleta dos exames nos pacientes com diferentes graus de dificuldade em expectorar com diagnostico precoce e rápido da tuberculose pulmonar.












REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros:
TORTORA, Gerard J, Berdell R. Funke e Christhiane L. Case. Microbiologia. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
MURRAY, Patrick R, Ken S. Rosenthal, Michael A. Pfaller. Microbiologia Médica. 5 ed. Riode Janeiro: Elsevier, 2006
Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epdemiológica. Manual nacional de vigilância laboratorial da tuberculose e outras micobactérias. 1 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.

Material da Internet:
São Paulo. Tuberculose. Disponível em: > http://pt.wikipedia.org/wiki/Tuberculose.
Acesso em: 20 out. 2008.
São Paulo. Sintomas da Tuberculose. Disponível em:
http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?432
Acesso em: 23 out. 2008

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